Certa vez num congresso que eu participei, conheci uma menina de outra cidade. A fila, onde nos conhecemos, estava enorme, continha cerca de 400 jovens, logo, haveria tempo para uma “breve” conversa. Papeamos sobre igreja, amigos, música e, no meio do papo, uma coisa me chamou a atenção e eu perguntei:
- Você e o seu marido não são da mesma cidade, são?
Ela: - Na verdade, não. Sou conterrânea sua!
E começou a me contar a história deles:
“Há alguns anos, eu tinha terminado uma relação com um cara que eu gostei muito e, com o término, sofri demais. Pra que eu tivesse um tempo meu pra respirar, pra esquecer, resolvi viajar pra casa da minha avó, onde eu sempre passava as férias. Após alguns dias, cheguei à seguinte conclusão: a dor não passava! Fui pro quarto, chorei, ajoelhei e orei naquela noite como nunca antes:
‘Senhor, ta doendo muito esquecer tudo o que passou. Por isso eu te peço do fundo do meu coração que o Senhor me dê condições pra continuar e não desistir do amor... .’”
Em suma, a oração era assim, me contava. A grande questão foi quando ela, estudante de História da Arte, faz o seguinte pedido:
‘Pai, agora te peço que me dês sabedoria e, num ato de fé, eu quero que o Senhor me dê capacidade para DESENHAR o homem da minha vida, o homem a quem eu vou entregar meu coração inteiramente um dia... .’
SIM, isso mesmo. Ela era desenhista e, a partir do dom dela, pediu a Deus essa simples capacidade, esta tarefa um tanto... Peculiar. Assim como você agora, eu também fiquei boquiaberta. Ela continuou:
“Naquela mesma hora, eu sentei numa escrivaninha e comecei a desenhar traços, feições, olhos, nariz, boca, coisas soltas. Eu cria que era o próprio Deus que me dava a direção. Quando achei que tinha terminado, visualizei aquilo por um tempo, dei um sorriso, fui ler a bíblia e dormi. Antes, dobrei o desenho e marquei a minha leitura. No dia seguinte, eu e minha prima que morava com a vovó, fomos a Igreja e eu já me sentia bem melhor que no dia anterior. Minha prima, mexendo na minha bíblia na hora do culto, encontrou o meu desenho, o que me deixou em pânico! Ela olhava pra ele como quem analisava, media. Um olhar clínico que tava me incomodando. Ela me perguntou:
- O que é isso?
- Um desenho, ué...
- É de alguém que você conhece?
[eu ri]
- Não, necessariamente.
- Podia jurar que EU conhecia.
- Você? Duvido. – Respondi rindo, claro. Se nem eu conhecia... .
- Olha ali, vê se não é igualzinho ao filho do Pastor. – disse a minha prima – Ele ta ali no púlpito com o violão na mão.”
A minha personagem me confidenciou que, naquele instante, sentiu um tremendo desespero. Um misto de confusão, com a lembrança de cada traço do desenho e um nervoso... Mas um nervoso. Era o próprio. E segue a história:
“Eu queria sumir daquele culto. E a minha prima me questionou que raio de desenho era aquele, até que eu contei. Ela irradiava uma alegria de quem tava doida pra dar com a língua nos dentes. Isso não podia acontecer, aliás, isso tudo não devia estar acontecendo, era muito surreal, martelava na minha cabeça. Quando acabou o culto, eu tentei fugir, mas claro que não, haveria aquele maravilhoso almoço de igreja. Justo hoje. A vovó ia ficar e eu teria também. Seria o meu fim.
Como não poderia deixar de ser, minha prima espevitada assim que arrumamos um lugar pra sentar, catou meu desenho e foi mostrar pro tal “carinha”. Agora sim era o meu fim.
Numa questão de segundos, muita coisa aconteceu:
Ela mostrou o desenho para o “carinha”, ele sorriu, eu corei, ele se levantou da mesa, veio até mim e disse:
- Como você demorou.”
Sim, caro leitor. Eles se casaram e viveram felizes para sempre como toda boa história de amor, na minha opinião. Mas, a pergunta que move esse texto é: Como se escreve uma história de amor? Eis minha humilde e automática resposta: não esperando por ela. Por quê? A gente acaba não se surpreendendo com a vida quando passa 24h com os sensores ligados. A minha “personagem” simplesmente teve fé e desligou os dela. Ela se manteve desarmada (e quando eu digo desarmada, o sentido literal entra perfeitamente. Larguem suas pedras um pouco!). A vida fica mais deliciosa quando a gente não a subestima, muito menos superestima. É muito melhor sofrer na hora certa que por antecipação, por que vem na medida.
A todos nós, eu desejo tranqüilidade e serenidade que nos permita ter fé de que cada um terá a sua história a seu tempo. Linda e inesquecível como a que acabei de contar.
No stress, relax.
Juliane Lira
"Viver é deixar viver..." Guto Goffi
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Sem Guarda-Segredos
11 years ago